Cocô na calçada: como ele reflete a desigualdade entre bairros nobres e periferias de São Paulo

As calçadas de São Paulo são palco de uma batalha diária entre o cuidado e o descaso. Enquanto moradores de bairros nobres, como Jardins e Higienópolis, tratam o espaço público como uma extensão de sua responsabilidade, nas periferias, como Brasilândia e Capão Redondo, o abandono de cocô de cachorro se soma a problemas estruturais, como buracos, bueiros abertos e lixo acumulado. Nesse contexto, o cocô na calçada tornou-se um símbolo das desigualdades que afetam até os menores detalhes do cotidiano.
De um lado, sacolinhas biodegradáveis e lixeiras específicas. Do outro, a sensação de abandono e falta de infraestrutura. O resultado? Um problema que impacta a mobilidade, a higiene e a qualidade de vida de todos os paulistanos.
A Limpeza Como Norma Social nos Bairros Nobres
Em regiões privilegiadas de São Paulo, o cuidado com os dejetos de pets é praticamente uma norma social. Campanhas educativas, presença de lixeiras e até dispensadores de sacolas reforçam o hábito de recolher o cocô de cachorro e evitar que ele fique espalhado pelas calçadas.
Mariana Ferraz, 34 anos, moradora de Moema, explica por que não abre mão de levar sacolas biodegradáveis ao sair com seu cachorro.
“Acho que é uma questão de respeito. O espaço público é de todos, e ninguém merece pisar em cocô na calçada. Sempre saio com sacolinhas e procuro uma lixeira. É simples, rápido e evita transtornos.”
Esse comportamento, comum em bairros nobres, reflete o acesso a uma infraestrutura que incentiva o cuidado com o espaço público. No entanto, há quem não siga a regra, mesmo em áreas privilegiadas.
Gustavo Almeida, 42 anos, morador do Jardim Europa, confessa que nem sempre recolhe o cocô de cachorro de seus cães.
“Olha, às vezes eu até levo sacola, mas nem sempre uso. Acho que a prefeitura já tem equipes para limpar as ruas, e, sinceramente, o cocô é algo natural. Parece exagero essa cobrança.”
Apesar de representarem uma minoria, pessoas como Gustavo causam desconforto entre outros moradores, especialmente quando deixam cocô na calçada, evidenciando que até mesmo em bairros com boa estrutura, o descuido pode ser um problema.
Desafios Cotidianos nas Periferias
Nas periferias de São Paulo, a situação é bem mais complicada. Além de conviverem com calçadas malconservadas, lixo acumulado e bueiros abertos, os moradores enfrentam o descaso generalizado com o cocô na calçada. A falta de lixeiras adequadas e de campanhas educativas agrava o problema.
Pâmela Castilho, 27 anos, moradora da Brasilândia, fala sobre os obstáculos que enfrenta diariamente.
“Fica difícil andar pelo bairro. A gente já tem que desviar de buracos e bueiros soltos, e ainda corre o risco de pisar em cocô na calçada. Amo animais, mas jamais deixaria isso acontecer. É uma questão de respeito.”
Por outro lado, Antônio Silva, 39 anos, também da Brasilândia, admite que não recolhe os dejetos de seu cachorro.
“Eu acho certo recolher, mas ninguém faz isso aqui. Além disso, as calçadas já estão tão destruídas que parece que não faz diferença. Parece que o bairro foi abandonado.”
Essa sensação de abandono cria um ciclo de descaso, onde a precariedade urbana reforça hábitos que prejudicam ainda mais o ambiente.
Infraestrutura e Educação: Uma Relação Direta
Especialistas destacam que a infraestrutura e a cultura local são determinantes para o comportamento dos moradores. Segundo a urbanista Carolina Mendes, o ambiente limpo dos bairros nobres incentiva o cuidado, enquanto a precariedade das periferias desestimula hábitos positivos.
“Nos bairros nobres, as pessoas têm acesso a campanhas educativas e infraestrutura, como lixeiras bem distribuídas. Isso motiva o bom comportamento. Já na periferia, a falta desses elementos reforça a sensação de abandono e dificulta a mudança.”
Além disso, a urbanista ressalta que o problema do cocô de cachorro vai além da conscientização individual.
“Não se trata apenas de educar os moradores, mas de oferecer condições que facilitem esse cuidado. Sem infraestrutura, qualquer mudança cultural se torna quase impossível.”
Impactos na Mobilidade e Saúde Pública
O abandono do cocô de cachorro, especialmente quando deixado nas calçadas, também afeta diretamente a mobilidade urbana. Em bairros nobres, calçadas planas e limpas permitem que o problema seja minimizado. Já nas periferias, o descuido torna o deslocamento ainda mais desafiador, especialmente para idosos, crianças e pessoas com mobilidade reduzida.
“É humilhante. A gente já tem que desviar de buracos e lixo, e ainda corre o risco de pisar em cocô na calçada. Isso mostra como a periferia é negligenciada,” desabafa Pâmela.
Além dos impactos na mobilidade, o problema pode gerar consequências graves para a saúde pública. O cocô de cachorro abandonado é um potencial transmissor de doenças, especialmente em áreas com saneamento precário.
O Papel do Poder Público e da Comunidade
Resolver o problema do cocô de cachorro em São Paulo exige ações conjuntas entre o poder público e a sociedade. Nos bairros periféricos, é essencial investir na instalação de lixeiras específicas, realizar campanhas educativas e garantir a fiscalização do cumprimento da legislação.
Para Carolina Mendes, mudanças simples no comportamento individual também podem gerar impactos significativos no coletivo.
“Se cada pessoa fizer sua parte, o ambiente melhora para todos. Mas para isso, é preciso criar condições que incentivem esses hábitos.”
Nos bairros nobres, onde a infraestrutura já existe, o desafio está em conscientizar os poucos que ainda resistem em adotar práticas responsáveis. Em locais como a Brasilândia e o Capão Redondo, porém, o esforço deve começar com melhorias estruturais que mostrem aos moradores que o cuidado com o espaço público vale a pena.
Transformando o Espaço Público
As calçadas de São Paulo não são apenas um meio de locomoção, mas também um reflexo das desigualdades sociais da cidade. A diferença no cuidado com o cocô de cachorro e o cocô na calçada expõe a divisão entre bairros nobres e periferias, mas também mostra que mudanças estruturais e culturais podem transformar a realidade de todos.
Enquanto isso, cabe a cada paulistano refletir: o que você pode fazer para cuidar melhor do lugar onde vive? Transformar as calçadas de São Paulo começa com pequenas atitudes, mas só se torna realidade com o esforço coletivo e o apoio do poder público.
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