Aeromóvel de Guarulhos: Relatório da ANAC Revela Obra Parada e Caos na Gestão
Vistoria expõe que sistema de automação, o 'cérebro' do projeto, sequer iniciou testes básicos, contrariando a imagem de obra 'quase pronta' e apontando para "descumprimento contratual sistemático".

Uma vistoria técnica da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), realizada em setembro de 2025, revelou um cenário de paralisia e desorganização nas obras do Aeromóvel de Guarulhos. Apesar da aparência de progresso, com trilhos e estações visivelmente prontos no Aeroporto de Guarulhos, o relatório aponta que a parte mais crítica do sistema — a automação que permite a operação dos veículos — sequer começou a ser testada. A falha expõe uma profunda crise de gestão e coloca em xeque o futuro da conexão entre os terminais e a estação da CPTM.
O projeto, conhecido como People Mover, prometia ser a solução moderna e gratuita para o transporte de passageiros. No entanto, transformou-se em um exemplo de falta de transparência. Enquanto a concessionária GRU Airport e o consórcio AeroGRU, responsável pela construção, comunicavam avanços na infraestrutura e a suposta realização de “milhares de viagens de testes“, a investigação da agência reguladora descobriu uma realidade oposta nos bastidores.
O ‘Marco A’: A falha crítica no cronograma
O ponto central do problema reside no descumprimento do chamado “Marco A“, uma etapa fundamental do cronograma cujo prazo venceu em julho de 2025. Este marco não era uma formalidade, mas sim o ponto de partida para a certificação do complexo sistema de automação. É este software que controla os trens sem condutor, gerencia velocidades, a abertura e o fechamento de portas e a comunicação com a central de operações.
O documento da ANAC, ao qual a imprensa teve acesso, revela que, embora o consórcio tenha erguido a “carcaça” do projeto, sua “alma” operacional permaneceu completamente inerte. De fato, a agência descreve a conduta dos responsáveis com termos duros, como “atrasos crônicos“, “opacidade nas comunicações” e “planejamento que beira o inexistente“. Portanto, o relatório conclui de forma contundente que os problemas reais superam em muito o que a concessionária informou, o que configura um “descumprimento contratual sistemático“.
Passageiros pagam o custo da espera
Enquanto a crise se desenrola em termos técnicos e contratuais, o impacto real é sentido diariamente por milhares de passageiros e funcionários do aeroporto. A solução provisória, que consiste em ônibus gratuitos circulando entre a estação de trem e os terminais, continua sendo um retrato do improviso e da ineficiência. Em horários de pico, longas filas e a imprevisibilidade no tempo de deslocamento geram frustração na chegada e partida do maior aeroporto da América do Sul.
A promessa do Aeromóvel de Guarulhos era justamente acabar com essa situação, oferecendo um trajeto de poucos minutos com conforto e previsibilidade. Essa promessa, contudo, já acumula pelo menos quatro adiamentos oficiais desde fevereiro de 2024, e a espera parece longe de terminar.
Futuro incerto e a ameaça de sanções severas
Com o colapso do planejamento e a evidente quebra de confiança, o futuro do People Mover é uma grande incógnita. Diante da gravidade da situação exposta pelo relatório, a ANAC estuda a aplicação de sanções severas contra a concessionária. As punições em análise variam desde multas pesadas até a devolução de reajustes tarifários que foram concedidos anteriormente com base no andamento do projeto.
Em um cenário mais drástico, a agência pode reavaliar a própria obrigatoriedade da construção do sistema, uma cláusula prevista no contrato de concessão. A crise do Aeromóvel de Guarulhos transcende a narrativa de mais uma obra pública atrasada. Ela se tornou o símbolo de um projeto onde a engenharia avançou, mas a capacidade de gestão, a implementação tecnológica e, acima de tudo, a transparência com o cidadão falharam completamente. A estrutura de concreto está de pé, mas a promessa de movimento segue paralisada por um plano que, até agora, provou não existir.
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