Linha 6: Deputado quer mudar nome da Estação Brasilândia

Renomeação de grandes obras públicas frequentemente reflete a memória e os valores de uma cidade. Seguindo essa tradição, uma nova proposta foi oficializada nesta segunda-feira, 22 de setembro. A publicação ocorreu no Diário Oficial do Estado de São Paulo e trata-se de um Projeto de Lei (PL 993/2025). O objetivo da proposta é alterar o nome de uma das paradas mais importantes da futura Linha 6-Laranja do Metrô.

A proposta é de autoria do deputado estadual Enio Tatto (PT). Ela sugere um novo nome para a estação Brasilândia: “Dom Angélico Sândalo Bernardino – Brasilândia”. A justificativa para a homenagem, por sua vez, está ligada à trajetória do bispo católico. O documento, que foi assinado digitalmente em 19 de setembro de 2025, cita sua forte atuação em pautas de direitos humanos. Adicionalmente, destaca o trabalho pastoral que ele desenvolveu na Zona Norte de São Paulo.

O Projeto da Linha 6-Laranja

Enquanto a proposta de alteração do nome tramita na esfera legislativa, as obras da Linha 6-Laranja avançam. A previsão do Governo de São Paulo é entregar o primeiro trecho, entre as estações Brasilândia e Perdizes, já no segundo semestre de 2026, com a conclusão do restante da linha programada para o fim de 2027. A nova Linha 6-Laranja se estenderá por 15,3 quilômetros e contará com 15 estações, representando um eixo fundamental de mobilidade na cidade.

Primeiramente, a linha conectará diretamente o bairro da Brasilândia, na Zona Norte, à estação São Joaquim, no centro. Nesse ponto, ela fará uma importante integração com a Linha 1-Azul. Graças ao seu traçado estratégico, o projeto também atenderá bairros populosos, como Freguesia do Ó, Água Branca e Higienópolis.

Além dessas regiões, a linha oferecerá conexão com os trens da CPTM (linhas 7-Rubi) e com a Linha 4-Amarela do Metrô. O projeto trará um impacto significativo para a vida dos paulistanos. A estimativa é que a nova linha atenda cerca de 630 mil passageiros por dia útil.

Para esses usuários, a redução no tempo de deslocamento será drástica. Isso significa que o novo metrô realizará o percurso entre Brasilândia e o centro (estação São Joaquim) em apenas 23 minutos. Atualmente, o mesmo trajeto de ônibus pode levar até 90 minutos em horários de pico.

Quem foi Dom Angélico Sândalo Bernardino?

Dom Angélico Sândalo Bernardino nasceu em Saltinho (SP), em 19 de junho de 1933, e se destacou como uma figura proeminente da Igreja Católica no Brasil. A Igreja o ordenou padre em 1959 e, posteriormente, bispo em 1974.

Dois grandes movimentos da Igreja moldaram fortemente sua atuação pastoral: o Concílio Vaticano II e a Conferência Episcopal de Medellín. Na prática, esses eventos consolidaram a chamada “opção preferencial pelos pobres” como o princípio que norteou todo o seu trabalho.

Ele construiu uma extensa carreira em São Paulo, onde atuou como bispo-auxiliar da Arquidiocese de 1975 a 2000. Nesse período, o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns o designou para atuar em algumas das áreas mais carentes da cidade.

Sua responsabilidade incluiu a região episcopal de São Miguel Paulista e, principalmente, a região da Vila Brasilândia. De fato, sua atuação nesta última localidade fundamenta a escolha da estação para a homenagem.

Finalmente, em 2000, ele assumiu um novo desafio quando a Igreja o nomeou o primeiro bispo da Diocese de Blumenau (SC). Lá, ele liderou a estruturação da pastoral social local até se tornar bispo emérito.

Atuação em pautas sociais e políticas

A justificativa do PL destaca Dom Angélico como um representante do setor progressista da Igreja, especialmente durante a ditadura militar e o processo de redemocratização. Sua biografia é associada a momentos críticos da história brasileira, onde se posicionou na defesa dos direitos humanos. Entre os episódios citados estão a prisão de Madre Maurina (1969), os assassinatos sob tortura do jornalista Vladimir Herzog (1975) e do operário Manoel Fiel Filho (1976), a execução do sindicalista Santo Dias (1979), a participação na campanha pelas Eleições Diretas (1984) e o envolvimento na descoberta da vala clandestina de Perus (1990).

Como entusiasta da Teologia da Libertação e defensor das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) ele também coordenou a Pastoral Operária, articulando demandas dos trabalhadores. O documento ressalta ainda sua amizade com o Presidente Lula, uma relação que começou nas greves do ABC Paulista nos anos 1970 e se estendeu por décadas, culminando com o bispo celebrando o casamento do presidente com a socióloga Janja da Silva em 2022.

Detalhes da proposta legislativa

O Projeto de Lei nº 993/2025 apresenta um texto direto. Seu Artigo 1º determina que a futura estação Brasilândia da Linha 6-Laranja passe a se chamar “Dom Angélico Sândalo Bernardino – Brasilândia”.

A justificativa anexa ao projeto enquadra a homenagem como um reconhecimento a uma vida dedicada a uma “Igreja ‘com cheiro de povo'”, que atuava junto aos pobres e marginalizados. Além disso, o texto descreve o bispo como um “pastor que encarnou os ideais do Concílio Vaticano II, com um coração profético e alma de santo”. Agora, a proposta segue para tramitação e votação na Assembleia Legislativa.

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